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domingo, 8 de setembro de 2013

Sem as guerras a potência não seria potência




A Síria será atacada pelos Estados Unidos? Como o país tem que esperar até segunda-feira (9) para que, no Capitólio de Washington, o Congresso dê luz verde ao gerente geral – quer dizer, ao presidente norte-americano – legitimando a verdadeiramente repudiável e ilegal intervenção militar, desde um ponto de vista jurídico internacional, e na ordem ética e moral, lhes propomos percorrer os caminhos de por que ocorreria o ataque anunciado.

Por Oscar Sánchez Serra, no Granma


Brasil, Rússia – que renasce como incômoda superpotência –, Índia e China (Bric), são economias emergentes, que já atuam como protagonistas principais do cenário geopolítico mundial. Destas duas últimas, entre as nações mais povoadas do mundo, se diz que marcarão o ritmo do desenvolvimento no futuro do século 21. Em outras palavras, os EUA teria que se preparar para a transição de poderes no planeta. Não seria o atual império o mais poderoso.

Para Víctor Burbaki, da Fundação da Cultura Estratégica, os modelos matemáticos da dinâmica geopolítica global concluem que uma vitória em grande escala, em uma guerra realizada por meios convencionais, seria a única opção de os Estado Unidos conseguirem reverter o rápido colapso de seu status geopolítico. Burbaki afirma que, se a atual dinâmica persistir, a mudança na liderança global poderia ser esperada para 2025 e a única maneira dos norte-americanos descarrilharem o processo, seria desenvolvendo uma guerra em grande escala.

A Iugoslávia em 1999, o Afeganistão em 2001 e o Iraque em 2003, já sofreram as investidas imperiais, sob a mesma rede de mentiras. A tática do gendarme nunca fez frente aos Estados que puderam disputar a supremacia global, pela qual o próprio Burbaki considera que o Irã, a Síria e os grupos xiitas, tais como o Hezbolá no Líbano, enfrentariam o perigo de serem golpeados em nome de uma nova redistribuição mundial. O especialista não disse isso ontem, senão há mais de um ano, em fevereiro de 2012.

Quer dizer, desfazer-se do Irã e da Síria, que interferem no caminho da dominação global dos Estados Unidos, deve ser o próximo passo natural de Washington.

Paul Farell, colunista e analista financeiro, declarou em abril deste ano que os Estados Unidos precisam de uma nova guerra, do contrário o capitalismo morrerá. Ele mesmo ironizou em uma nota do Russia Today: “A Segunda Guerra Mundial não nos tirou da grande depressão?”. Isso embasa a sua tese de que as guerras beneficiam sobretudo os capitalistas. A lista da Forbes de multimilionários do mundo disparou de 332, no ano 2000, para 1426, na sua última edição. Destes multimilionários, 31% são norte-americanos.


Neste sentido o intelectual argentino sentencia explicando que, hoje, o poderio se baseia nas guerras, sempre dos outros, nunca no seu próprio território. De qualquer maneira a guerra é o eixo: sua economia doméstica é alimentada, em uma alta porcentagem, pela indústria da guerra e sua hegemonia planetária (apropriação de matérias-primas e imposição de regras do jogo econômico e de políticas mundiais com o primado do dólar) também depende delas. Hoje em dia Washington necessita das guerras. Sem as guerras, a potência não seria potência.

O que vivemos agora com a Síria sitiada, o que leva o Oriente Médio a uma guerra de consequências imprevisíveis – com o verdadeiro alvo por trás, o Irã, e com Israel, que está esperando, pressionando e chantageando o amo do Norte para que acabe de cumprir com o castigo ao país persa – não é obra do acaso.

A primeira vítima de uma guerra é a verdade. Se no Iraque as falácias mais obscenas estavam relacionadas com a posse de armas de destruição em massa e seu estreito vínculo com a Al Qaeda e, no Irã, a fabricação de um poderoso armamento nuclear, agora na Síria, são as supostas armas químicas empregadas por Al-Assad contra seu próprio povo – ainda que ninguém com o mais elementar senso comum acredite nisso, porque seria inconveniente para o próprio governo criar um pretexto como esse.

Contudo, a mentira é parte do plano e este não nasceu ontem, nem foi improvisado em um bar com algumas cervejas, mas na Casa Branca, lá pelo ano de 1997, quando um grupo de mentes febris, de alienação ultradireitista, criaram o Projeto para o Novo Século Americano, com o objetivo de manter os Estados Unidos como a superpotência hegemônica do planeta a qualquer preço.

A abertura, a estabilidade, o controle e a globalização mundial dos mercados; assim como a segurança e a liberdade do comércio; o acesso irrestrito aos lugares onde se encontrem fontes energéticas e de matérias-primas necessárias para dinamizar sua economia e a de seus aliados; o monitoramento e controle em tempo real das pessoas e de todos os movimentos políticos e sociais importantes contrários a seus interesses; a expansão e consolidação do domínio do capital financeiro e industrial de suas empresas e corporações transnacionais, e a garantia do controle sobre os meios de comunicação e de informação mundial, são os objetivos do projeto.

Para isso não pouparam nem os mercenários sírios – bem pagos e armados –, nem o emprego de seu poderio militar. Tampouco deixaram de criar situações de conflito interno nas nações, como a fabricação e implantação da chamada Primavera Árabe, no norte da África, que culminou com o assassinato de Muamar Kadafi.

Quem pensou e armou esta loucura baseada na indústria da morte, o verdadeiro suporte da economia dos EUA? Pois foram os “ilustres” neoconservadores que desempenharam altos cargos nas administrações de Ronald Reagan e George Bush (pai e filho), leia-se Dick Cheney, Jeb Bush, Paúl Wolfowitz, Donald Rumsfeld, Dan Quayle, Lewis "Scooter" Libby, Eliott Abrams, John Bolton, Richard Perle, entre outros. 

Quem os amparou politicamente? O Partido Republicano, o Partido Democrata, o Comitê de Assuntos Públicos entre Estados Unidos-Israel (Aipac) – lobby pró-Israel na nação estadunidense – e muitas organizações de poder com influência em Wall Street, nos meios de comunicação e no poderoso complexo militar-industrial. Para bom entendedor, não importa quem é o presidente.

As torres gêmeas foram derrubadas, mas se ergueram as bases para a implantação do projeto, difundindo a “divina” ideia fundamentalista de que os Estados Unidos são o único capaz de combater os terríveis males do terrorismo islâmico, do narcotráfico e do crime organizado – ainda que seu próprio território seja o que abriga mais terroristas, o maior consumidor de drogas ou onde os criminosos gozam de impunidade. Desencadearam uma cruzada midiática implacável que fixou nas mentes dos cidadãos do mundo: o medo e o perigo.

Tanto que até a própria ONU, na sua investigação sobre as armas químicas na Síria – a mentira angular para a agressão –, disse que sua pesquisa é somente para comprovar se usaram ou não tal recurso, e não para apontar o responsável.

Na Síria, o Projeto já provou sua variante da “Primavera Árabe”, mas não pode desestabilizá-la. Agora lhes toca o recurso de destruí-la e deixá-la sem governo, sem ordem, porque anarquia social ali é justificar sua presença e a de seus aliados com todas as suas tropas e até de uma coalizão. É também uma porta de entrada ao Irã, além disso, com vigilância sobre o perigo do Hezbolá no Líbano, e o cumprimento de uma obrigação com Israel, que desde a sua derrota em 2006 perante essa força, não pode cicatrizar as suas feridas.


Quem pode ter duvidas de que tudo isso é um plano orquestrado, e que nem aos Estados Unidos, nem aos seus aliados, importa se houve ou não uso de armas químicas? O que interessa é a situação geoestratégica de Damasco e o poder do império, ainda que banhem de sangue esse povo heroico e a paz mundial volte a ser pisoteada pela nação e pelo governo que permanece como paradigma dos direitos humanos. Mas veja bem, quem com ferro fere, com ferro será ferido.





Tradução: Théa Rodrigues, da redação do Vermelho
Fonte: Vermelho
Imagem: Google

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