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quinta-feira, 18 de abril de 2013

O Sapo e os "ecologistas"




Animal raro emperra construção de usina no Vale do Taquari


Pesquisadores alertam que hidrelétrica em Arvorezinha ameaça espécie

Um animal que cabe na palma da mão de uma criança ameaça a construção de uma hidrelétrica em Arvorezinha, no Vale do Taquari. Atrasada, a obra pode não avançar por colocar em risco de extinção do sapo que só existiria no Rio Grande do Sul.

De um lado, está o anfíbio de 3,5 centímetros, descoberto há nove anos por pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari (Univates), que habita área de 700 metros às margens do Rio Forqueta, no ponto turístico chamado de Perau de Janeiro, a 19 quilômetros do centro de Arvorezinha. Conhecido como sapo-de-barriga-vermelha, é uma espécie endêmica, ou seja, não existe em nenhum outro lugar do mundo.

No outro, está a Cooperativa Energia Desenvolvimento Rural de Fontoura Xavier (Cerfox), que tenta instalar a pequena central hidrelétrica Perau de Janeiro, no limite entre Soledade e Arvorezinha, há cerca de cinco anos. A usina teria capacidade de 1,8 megawatt, energia suficiente para abastecer 2 mil casas. O investimento previsto é de R$ 9 milhões. Para os ambientalistas, a maior preocupação é o impacto que pode causar a obra a cerca de um quilômetro.

– É uma espécie pequena e muito sensível. Qualquer alteração na água, na floresta e no ambiente pode levar à extinção – justifica o professor do curso de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Márcio Borges Martins.

Coordenador da pesquisa, com quatro estudantes do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFRGS, Martins diz ter comprovado que a espécie só existe na área. Agora, tenta determinar a população de sapos e como pode ser preservada. Em defesa do investimento, o presidente da Cerfox, Jandir Conte Zanotelli, afirma existir déficit de energia na região e considera o investimento urgente:

– Entendemos a importância do sapo e já temos no projeto uma área que será destinada a ele. Precisamos um acordo para obter a licença ambiental.

O projeto está em fase de licença de instalação na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Antes, o órgão pretende delimitar a área de preservação do animal, que será transformada em Reserva Particular de Proteção Natural. As tratativas começaram, mas não há previsão de conclusão. Zanotelli diz que a Cerfox pretende fazer parceria com a universidade para monitorar a espécie.

Que animal é esse

A espécie foi descoberta em 2004 por alunos da Univates e, dois anos depois, recebeu o nome científico de melanophryniscus admirabilis, devido a sua beleza.

Conhecido como sapo-de-barriga-vermelha, mede cerca de 3,5 centímetros. Tem manchas verde-claras e pés e barriga vermelhos.

É uma espécie endêmica, ou seja, não existe em outro lugar do mundo a não ser no Perau de Janeiro, em Arvorezinha, no Vale do Taquari, onde há Mata Atlântica e o Rio Forqueta.

O sapo usa pequenas poças nas margens rochosas do rio para se reproduzir. Depois que os girinos crescem, escondem-se na mata.

A espécie integra o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Anfíbios e Répteis do Sul do Brasil, avaliada por pesquisadores e considerada "criticamente em perigo", com altíssimo risco de extinção.

Há três anos, outro sapo emperrou uma obra. Na época, a construção de um túnel no Litoral Norte, como parte da duplicação da BR-101, parou por seis meses para que ambientalistas avaliassem o impacto na espécie sapo-narigudo-de-barriga-vermelha (melanophryniscus macrogranulosus). Em uma visita ao Estado, em julho de 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva arrancou risos da plateia:

O país não pode ficar a serviço de uma perereca. Nós sabemos a importância da perereca, mas não pode parar a obra.






Fonte: Zero Hora

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