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sexta-feira, 6 de julho de 2012

Paraguai: dinastia x povo





O que está em jogo no atual cenário latino-americano desde as terras paraguaias é a possibilidade, ou não, de manutenção do poder pela dinastia oligárquica deste país.

*Por Roberta Traspadini

Desde o período colonial, o processo de desenvolvimento da luta de classes na América Latina tem como sendeiro luminoso a disputa de classe pelo poder (na compreensão e na execução).

Em boa parte dos últimos 500 anos, a América Latina viveu uma sucessão dos mandatários das dinastias no poder de Estado, dada a capacidade de grupos familiares dominantes exercerem, na força bruta, o poder de ditar as formais-representativas regras do jogo político.

O que está em jogo no atual cenário latino-americano desde as terras paraguaias é a possibilidade, ou não, de manutenção do poder pela dinastia oligárquica deste país, em associação com os interesses do capital internacional, em especial, o estadunidense.

No Paraguai, a dinastia Strossner tenta assumir, nos últimos anos, a postura de não permitir que outra classe realize, com suas cores e sabores, um projeto alternativo de poder, com grande projeção popular e internacional.


 
Mais do que um questionamento formal à política do inimigo, o que a dinastia oligárquica exerce é a estratégia histórica de destituir, na força, um poder legitimamente instituído pelo povo.

O que o rei paraguaio, da dinastia internacional coligada com os EUA sobre a América Latina, pretende com seu histórico familiar, no golpe sobre Lugo e o povo, é continuar trotando rumo à sua aparente insuperável manipulação e execução do poder formal de Estado.

O que vivemos neste momento no Paraguai é a disputa entre o que historicamente se teve como hegemônico processo de realização de poder e a real chegada democrática ao Estado, de um presidente avesso à dinastia Paraguaia, Lugo.

Paraguai é um país estratégico para a continuidade de poder hegemônico dos EUA no continente latino. As reservas de água, a localização desde o sul, exigem do Estado americano, um posicionamento ancorado nas bases da disputa territorial nacional. É assim como se associam o militarismo das dinastias com o militarismo armado americano.

Para as famílias da dinastia, articuladas para a prepotente ininterrupta sucessão ao trono, Lugo representa não só o fracasso, mas a perda da condução criminosa na história do poder paraguaio.

Crime que, nos últimos 500 anos, foi irradiado por todos os cantos habitados pelo povo paraguaio, com a expressiva morte de camponeses, da produção de vida autônoma e da soberania popular.

Mas os discípulos do Rei sem trono, não contavam com a organização do poder popular dentro e fora de seus domínios territoriais.

O golpe ocorre em um momento muito particular da história do poder na América Latina. Outros Estados, com seus projetos e processos, estão em aberta correlação de forças contra as dinastias nacionais executadas em nossos territórios latinos.

A atual política de golpe da dinastia nos nossos países encontra, no cenário internacional e latino-americano, uma resistência incômoda para os déspotas: os povos organizados rumo à outra integração possível que não seja a da mercantilização dos territórios e sujeitos e que, pouco a pouco, execute uma nova dimensão sobre o bem viver.

O Paraguai de Lugo, não pertence somente aos paraguaios. Pertence a um processo de integração em que os povos latinos se reconhecem, na resistência, em luta juntos, integrados por outros interesses e compromissos.

Essa integração dos povos tem, em alguns dos Estados nacionais – Venezuela, Bolívia, Equador, Brasil – uma aliança que coloca em xeque o golpe, como dinâmica aceitável de poder.

As ditaduras das dinastias encontram, hoje, outro tipo de resistência popular ao seu crime despótico: a organização internacional dos povos, dos Estados aliados desde outra dinâmica.

Quiçá ainda não estejamos em tempos de uma América Latina livre, como sonhava Bolívar. Mas não estamos mais em um processo em que a humilhação, a matança e a organizada forma criminosa de ser das dinastias nacionais consigam ser executadas sem o grito e a organização coletiva de classe no continente.


 
Que as dinastias latinas sejam banidas da real possibilidade de execução de poder formal na América Latina. Que nós latinos nos levantemos com os camponeses e o povo paraguaio, contra esse sujo jogo de poder oligárquico familiar que tenta, na aliança geopolítica com os EUA, minar a possibilidade real da construção do poder e do projeto popular no Paraguai. E que os Estados nacionais em correlação de força com os EUA, façam a sua parte no processo, como já assinalou o presidente Chávez.

 


*Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ ES.

Fonte: Brasil de Fato 
Imagem: Google

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